A licitação vencida pela Toyo Setal em 2013 para a construção de uma termelétrica da Petrobras num campo de gás natural do Amazonas foi aprovada com um custo acima da média do setor, mas só foi cancelada pela estatal após executivos ligados à empreiteira terem admitido participação no cartel investigado pela Operação LavaJato. Segundo fontes da área de engenharia da Petrobras, a proposta vencedora de R$ 540 milhões para a construção da usina Azulão tinha custo médio três vezes maior do que o de usinas térmicas similares.
Como o projeto prevê 102 MW de capacidade instalada, o custo de Azulão ficou em R$ 5,3 milhões por MW. A Eneva (exMPX, de Eike Batista), que gastou R$ 1,3 bilhão na termelétrica ParnaÃba 1, com capacidade de 676 MW, conseguiu relação bem menor: R$ 1,8 milhão por MW. A usina, que começou a operar em abril de 2013, foi a primeira de quatro unidades de um complexo da Eneva que têm caracterÃsticas parecidas com as do projeto de Azulão: foram construÃdas em torno de um campo de gás natural, o Gavião Real, no Maranhão. Essa é uma grande vantagem econômica nesse tipo de projeto porque há a garantia do combustÃvel.
Outro exemplo é o projeto da usina térmica Mauá 3, da Eletrobras Amazonas Energia, orçada no final de 2012 em R$ 1,1 bilhão. Como a usina terá capacidade de 583 MW, o custo também ficou em R$ 1,8 milhão por MW. Mauá 3, que vai usar o gás natural do campo de Urucu, também no Amazonas, foi uma das vencedoras do último leilão de venda de energia elétrica, em 28 de novembro de 2014. Obteve R$ 203,5 por MWh em contatos com receita anual de R$ 760 milhões por 25 anos.
OPORTUNIDADE PERDIDA
Mauá 3 e Azulão eram os projetos mais competitivos do certame por serem os únicos com gás "na boca do poço". No entanto, a Petrobras teve que abrir mão da oportunidade para evitar a assinatura do contrato com a Toyo Setal para erguer a usina logo após o leilão. A Setal, que se uniu à Toyo no Brasil em 2012, é uma das 23 empresas impedidas na semana passada de firmar contratos com a estatal enquanto durarem as investigações.
A Petrobras informou que passou a adotar o modelo de licitação que deixa o projeto básico para os concorrentes para tornar a seleção mais competitiva e negou que tenha tirado Azulão do leilão por suspeita de irregularidades. Afirmou que o projeto foi reformulado e ainda não está pronto, embora tenha pago as garantias para participar do certame. Um mês antes do leilão, em outubro de 2014, o gerente de Participações em Energia da Petrobras, Fernando Costa Filho, disse à "Reuters" que Azulão estava pronta para a disputa. Ele estimou o investimento na obra entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões.
Como O GLOBO revelou ontem, documentos internos da Petrobras mostram que o projeto de Azulão estava previsto para participar do leilão de energia desde dezembro de 2013. Agora, além de ter perdido um bom negócio, a estatal corre o risco de ficar sem a concessão do Campo de Azulão, que explora desde 1999. O Plano de Desenvolvimento do campo revisado em 2010 pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) estabelece que a Petrobras terá de devolvê-lo se não conseguir produzir gás para alimentar a termelétrica até janeiro de 2017. A Petrobras diz que ainda tem planos de concretizar o projeto, que poderia gerar 1.400 empregos diretos e indiretos na região de Silves (AM), a 200 quilômetros de Manaus, mas admite que a construção levaria cerca de dois anos.