Representantes dos trabalhadores no setor elétrico receberam com espanto, tristeza e frustração a notícia de que o Governo Federal manteve a decisão de privatizar a Companhia Energética de Goiás (CELG) e outras 6 estatais distribuidoras de energia elétrica. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (1), em mais um encontro, que deveria ocorrer entre os ministros da Casa Civil e Secretaria-Geral, Jaques Wagner, Ricardo Berzoini e dirigentes dos movimentos sindicais e sociais que lutam contra o desmonte do setor elétrico no País. No entanto, a reunião ocorreu, mais uma vez, sem a presença dos ministros, que enviaram assessores como porta-vozes da má notícia.
A equipe governamental deixou clara a intenção do Executivo em entregar as companhias energéticas ao mercado, sob o argumento de que não há recursos para atender as necessidades do setor.
A alegação do governo que, ao que tudo indica, não quis enfrentar cara a cara os sindicalistas, e preferiu enviar emissários, é de que para manter o setor funcionando, com um serviço de qualidade que atenda a demanda da população, serão necessários grandes investimentos e não há recursos para isso, diante da atual situação econômica do Brasil.
De acordo a administração executiva, o setor de distribuição de energia hoje é praticamente todo privatizado. Restam apenas as empresas do sistema Eletrobrás e mais duas distribuidoras estaduais, de Roraima e Amazonas que, devido à falta de recursos, não conseguiram atingir o padrão de qualidade exigido para renovação de concessão.
A informação é de que as duas companhias em questão não possuem desempenho técnico e condições econômicas compatíveis com as outras distribuidoras para atender as novas normas de concessão, estabelecidas ano passado. Sendo assim, segundo a assessoria do governo, para que possam atender aos requisitos, o sistema Eletrobrás teria que investir mais de R$18 bilhões nas duas estatais e não há verba para isso.
A decisão informada foi de que todo o segmento de distribuição será desestatizado, começando pela CELG. O Estado ficará responsável apenas pelo sistema de geração e transmissão.
Os dirigentes dos movimentos reagiram com indignação ao que chamaram de “revés neoliberal” do governo. O grupo considerou inaceitável a atitude de querer bater o martelo à privatização sem antes analisar e discutir a alternativa apresentada pela classe. Para os dirigentes sindicais, existem alternativas para superar a crise do setor energético sem recorrer à venda das estatais. As entidades ameaçaram romper com o governo, caso não considere o debate com os trabalhadores. O grupo de negociação pediu ainda o adiamento de uma audiência pública, marcada para a próxima quarta-feira (3), para discutir a venda da estatal goiana.
Por sua vez, os secretários prometeram enviar todas as solicitações ao Executivo e responder até amanhã (2), às 18h, sobre o cancelamento da audiência. A informação é de que o planalto não pretende voltar atrás na decisão, tomada sob “análises cuidadosas”.
Wagner Vilela, representante dos empregados da CELG no conselho de administração da empresa, disse que saiu da reunião frustrado. "A gente vem percebendo uma ação cada vez mais atropelada do governo no sentido de retomar o processo de privatização. Tínhamos conseguido abrir uma agenda franca e direta com os ministros Wagner e Berzoini e esperávamos que dessem continuidade a isso. No entanto, não tiveram nem a disponibilidade de nos dar o recado pessoalmente - mandaram a assessoria para dar o péssimo recado. Mas, ao mesmo tempo, saímos esperançosos, pois percebemos que todas as entidades aqui presentes marcam posição da seguinte forma: se o governo mantiver essa decisão, o rumo que os movimentos sindicais e sociais vai tomar será diferente do que tem tomado até agora. Vamos deixar o apoio ao governo. Isso pode ser um sinal para o mesmo refletir”, destacou.
Como funcionário da CELG, Vilela afirma que a companhia é a única, das 7 do sistema Eletrobrás, que apresenta potencial de lucratividade num curto prazo. “É uma empresa que teria condições de ajudar o próprio governo a manter as demais distribuidoras com dificuldade maior de caixa”, concluiu.
O representante do Sindicato dos Urbanitários no Amazonas (STIU-AM), Joseirton Albuquerque, classificou como decepcionante a forma que o governo tratou “os movimentos, sua base aliada. Está faltando um pouco mais de clareza nas afirmações quanto a situação das empresas, a justificativa para a venda, principalmente da CELG, que já mostrou, numericamente, que é lucrativa. Faltou algo mais coeso para convencer. Saímos com sentimento de perda, mas fortalecidos, para que a luta seja maior e mais intensa, caso o governo não mude de posição”, disse.
Um dos principais nomes na luta do movimento contra as privatizações, Ailma Maria, presidente da CTB-GO, manifestou a posição da central perante a equipe dos ministros. “Estamos frustrados com o tratamento dado pelo governo, não só às centrais, à classe trabalhadora, como também à sociedade brasileira. Aguardamos há vários meses uma audiência com a presidenta que, lamentavelmente, manda seus emissários para dizer que vai manter o processo de privatização. Uma decisão contraditória, não apenas do ponto de vista da perspectiva ideológica do governo, que foi eleito com um discurso contrário, mas porque temos convicção de que este processo trará mais prejuízos à nação. Demos um ultimato ao governo. Queremos ser ouvidos e queremos que debata conosco, considere a nossa proposta. Caso contrário, vamos reagir”, pontuou.